Neste último fim de semana, conversava com uma amiga sobre a capacidade de escutar, de se interessar pela vida do outro. Ela me contava ter ouvido uma vez que a característica básica para ser uma boa psicóloga é justamente ser curiosa sobre a vida das outras pessoas. Uma curiosidade que fala de um verdadeiro interesse sobre quem é aquele com quem se conversa, sobre o que se passa com aquela pessoa, sobre como vivencia suas experiências e o que faz com o que vivencia. Eu diria que se trata de uma curiosidade profunda por aquilo que é humano.

A análise é, sobretudo, um trabalho de escuta, de uma disponibilidade de escuta diferenciada. Recentemente falei aqui, de forma breve, sobre a regra fundamental da análise, a associação livre, um falar livremente, sem qualquer julgamento. O analista está, então, nesta posição disponível para escutar o que quer que venha do analisando, está interessado naquilo que o analisando fala, em como fala, em quais palavras escolhe para dizer. Penso que esta é uma posição radical e que não demanda pouco.

Usamos a palavra escuta, o verbo escutar. Por que não usamos o verbo "ouvir"? Percebo subjetiva e intuitivamente a diferença entre escutar e ouvir, mas fui pesquisar. Apesar de serem muitas vezes tomados como sinônimos - e em alguma medida são mesmo -, ouvir está ligado ao processo mecânico da audição, daquilo que chega a mim sem que eu necessariamente escolha. Lembro-me aqui da expressão "ouvi dizer que..."; trata-se de algo vago, ouvi por aí, não lembro onde ouvi nem quem falou. Escutar, escutar é outra coisa. Escutar pressupõe uma intencionalidade, uma atenção dirigida e voluntária.

É famoso o caso de Anna O. (nome fictício de Bertha Pappenheim), tratada por Breuer, colega de Freud no tratamento da histeria. Anna ficou conhecida por, de certa forma, ter criado o método que viria a ser chamado "associação livre". Ela o nomeia talking cure, isto é, "cura pela fala", ou ainda, chimney-sweeping, "limpeza de chaminé". O caso clínico da paciente é apresentado nos Estudos sobre a histeria (de 1893-1895, escrito por Freud e Breuer) e mostra claramente o efeito da narrativa, como o fato de verbalizar experiências promovia calma. Breuer afirma: "Quando, depois disso, ela se havia esgotado de tanto falar (...), ficava com a mente clara, calma e alegre (p. 62, Edição Standard)"; em outra passagem: "Já descrevi como sua mente ficava inteiramente aliviada depois que, trêmula de medo e horror, havia reproduzido essas imagens assustadoras e dado expressão verbal a elas (p. 65, idem)".

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Não é incomum que pessoas, ao serem escutadas numa primeira conversa com um analista, sintam-se aliviadas, vejam muito rapidamente algum resultado daqueles poucos minutos de conversa. Às vezes se diz "eu só precisava falar", como uma ação encerrada em si mesma. Sinto que talvez seja simplista e falte aqui o que pode modificar totalmente esse falar, esse dizer: um interlocutor realmente disponível para escutar. Falar por falar, poder-se-ia falar a quase qualquer um, mas falar a alguém que escuta interessado, acompanha a narrativa, volta aqui e ali para marcar uma palavra, para fazer uma conexão; isso é radicalmente diferente.

Falar em análise é diferente de falar fora dela. A relação que se coloca numa análise é bastante peculiar. Mas o ponto que gostaria de trazer aqui é que encontrar bons "escutadores" na vida comum também pode promover efeito de cura, para usar o termo trazido por Anna O., efeito terapêutico.

É nesse ponto que me pergunto o quanto estamos escutando uns aos outros, o quanto estamos genuinamente interessados naquilo que se passa com quem está ao nosso redor, quando fazemos uma pergunta verdadeiramente interessados na resposta, disponíveis para ouvir o que surgirá da boca de nosso interlocutor. Pergunto-me se não estamos voltados apenas para nossos umbigos, descolados, desafetados por aquilo que acontece mesmo com nossas pessoas mais queridas.

Empatia está entre as palavras que ganhou notoriedade nos últimos tempos; entendida, de forma sintética, como "colocar-se no lugar do outro". E que bom fazer este exercício de sair do próprio lugar, mas sempre faço a ressalva, quando me coloco no lugar do outro ainda sou eu. A empatia, a verdadeira, demanda um salto, uma posição capaz de ouvir aquilo que é diferente de mim, um lugar de autêntica abertura para o outro. Parece-me que, em meio à rapidez e à pressa em que vivemos, estamos precisando exercitar nossa capacidade de escuta e quem sabe nos curarmos, ao menos um pouco, de nosso umbiguismo e também de nossas dores mais cotidianas, mais próprias do que é viver a vida.

Obs.: Para ler mais sobre a fascinante arte da escuta, recomendo o livro "O palhaço e o psicanalista", de Christian Dunker e Cláudio Thebas.