Provavelmente nunca houve tanta informação sobre maternidade e parentalidade. Milhares e milhares de páginas oferecendo respostas, recomendações, sugestões e fórmulas para lidar com os mais diversos tipos de dúvidas, problemas, medos e questões. "Como fazer seu bebê dormir em 5 minutos", "10 dicas infalíveis para sonecas mais longas", "5 passos incríveis para a introdução alimentar do seu filho", e por aí vai. Além da internet, temos, é claro, os conselhos e pitacos daqueles que estão ao nosso redor.

Por vezes, esse acesso à informação acontece de forma indireta, não por um conselho ou uma sugestão, mas simplesmente pela observação de outras mães, de outras formas de fazer, de outras maternagens. Essa experiência pode ser enriquecedora, abrir novos caminhos, e também pode levar a uma constante comparação que pode ser bastante prejudicial, colocando em jogo a mãe que se é, às vezes inclusive estabelecendo julgamentos e competições.

Assim, pode ser muito fácil se perder nesse oceano de dicas, recomendações, ideias. O que fazer, então, com esse volume de informação?

Winnicott, psicanalista inglês, vem lembrar que há algo que acontece na intimidade entre mãe e bebê que não pode ser ensinado, uma espécie de saber materno, um conhecimento especializado que cada mãe desenvolve com seu bebê. Em seu livro Os bebês e suas mães, ele afirma que:

A tarefa mais difícil, quando se prepara uma série de palestras e livros sobre a assistência aos bebês, é saber como evitar perturbar aquilo que se desenvolve naturalmente nas mães, ao mesmo tempo em que as informamos com exatidão sobre os conhecimentos úteis resultantes da pesquisa científica (p. 14).

É importante ressaltar que o termo "naturalmente" poderia levar a uma compreensão de que se trata de um saber quase inato, natural no sentido de que toda mulher já saberia como fazer. Aqui faço a ressalva, pois ninguém nasce sabendo como cuidar de um bebê, trata-se de algo que se aprende, das mais diversas formas. Aprende-se observando outras pessoas cuidando de bebês, aprende-se lendo, aprende-se fazendo. Com isso, quero dizer que tal tarefa demanda energia, investimento, trabalho.

Dito isso, a citação de Winnicott parece trazer justamente o desafio de encontrar a medida entre um saber científico e um saber dito natural, que associo aqui a um fazer, a um saber aprendido. Esse saber vem, então, de experiências que precedem à chegada do bebê e também de algo que se dá na relação da mãe com seu bebê especificamente. Dessa maneira, parece-me, adotar fórmulas universais, ou seguir conselhos mágicos, pode muitas vezes desconsiderar a singularidade dessa díade. Cada mãe é única, cada bebê é único. Não há uma resposta única.

Desse modo, o acesso a informação não é algo prejudicial em si mesmo, a não ser nos casos em que se trata de desinformação, claro. Eu diria que se trata, então, de duvidar, de questionar, para que não se corra o risco de se desautorizar como mãe ou pais, localizando o saber de forma sempre externa.

Diante de um livro, de um artigo, de uma consulta médica, talvez possamos perguntar, será que isso se aplica ao meu bebê? Será que isso faz sentido para mim? Qual maternidade/paternidade quero construir? Essas são algumas perguntas que abrem espaço para escolher o que fazer com a sugestão ou com o conselho que recebemos. Em outras palavras, seguir o conselho ou a fórmula não é obrigatório, nem faz uma mãe pior ou melhor. Lembro, então, de outras palavras de Winnicott:

Quero que vocês consigam se sentir confiantes em sua capacidade como mães, e que não pensem que, por não terem um conhecimento profundo de vitaminas, não sabem, por exemplo, a maneira de segurar seu bebê no colo.

Maternidade é plural. Ninguém conhece melhor seu bebê que você.