Sempre amei caçar citações e referências, fazer levantamentos bibliográficos. Gosto de ler um livro ou um texto, que me leva a outro, que me leva a outro; um escritor que me apresenta outro, que me apresenta outro. Encontro uma citação de um autor no meio de um texto e vou em busca da fonte da citação. Posso gastar horas fazendo isso, e ao fim ter dificuldade de lembrar onde tudo começou e, assim, ver a pilha de livros na mesa somente aumentar.
Há muitas frases e ideias de Freud que já ganharam quase vida própria, sendo um verdadeiro desafio saber a fonte delas, em qual texto estão, a citação ipsis litteris. Fuço os livros, índices remissivos, uso o google, peço ajuda a amigos para puxar pela memória. Normalmente funciona e acabo encontrando, o que me leva a uma tremenda satisfação, mas às vezes o trecho escapa, parece fugir de mim e não o encontro.
Recentemente aconteceu isso com a ideia tão difundida de que Freud colocaria como um dos objetivos de uma análise estabelecer a capacidade do paciente de amar e trabalhar. A meu ver, essa é uma ideia muito interessante e, um dia desses, me ocorreu buscar o trecho específico em que Freud fala disso. Fato é que não encontrei a bendita da passagem, nem com muita busca e ajuda.
Eis que, empreendendo uma procura de outro termo, não ligado a essa ideia, abri um texto curto de Freud, daqueles muito menos conhecidos e me deparei quase que de primeira com a tal da passagem do "amar e trabalhar". Bingo! Passagem grifada e com um coração desenhado ao lado. Viva a marginalia!
Às vezes, buscamos tanto alguma coisa, investimos tanta energia procurando algo e não encontramos. Nosso objetivo parece fugir da gente, escapar do nosso olhar. De repente, não mais que de repente, considero que não encontramos, mas somos encontrados, achados. O trecho do texto me encontrou, exatamente quando eu não o procurava. De vez em quando, é preciso se colocar num estado distraído, deixar que o tempo opere, para que (re)encontremos aquilo que buscamos.
Depois de encontrar o trecho, pretendia falar sobre a ideia do "amar e trabalhar" neste post, mas a escrita tem disso, nem sempre sabemos aonde vai dar. Começamos uma trilha e, quase sem nos darmos conta, pegamos um desvio e caimos noutra. Procurando alguma coisa, encontramos outra, que buscávamos antes ou que nos surpreende totalmente. O "amar e trabalhar" fica para outro dia, hoje, fico no "procurar e ser encontrada".