É praticamente lugar-comum dizer que hoje vivemos com pressa, até quando não estamos efetivamente com pressa. Corremos, aceleramos, não temos tempo a perder. Tô correndo, tô no corre, tô sem tempo, time is money! Junto à pressa, as coisas se tornaram mais e mais efêmeras, fugazes. Estamos apressados, não queremos perder nada, nem um minuto sequer. Use o tempo, aproveite o tempo porque ele é curto!
Dispomos de "x" horas para fazer a, b, c, d, e... O tempo é contado! Somos então colocados em um estado de urgência constante. Pergunto-me, inclusive, se, ofegantes, estamos correndo em busca de algo que está lá, à frente, no futuro ou se estamos fugindo de algo...
Fato é que comumente somos atropelados pelo tempo, com a sensação de que ele é sempre escasso, pouco. Mas, por vezes, queremos parar. Ou, se não queremos, conscientemente, nosso corpo sinaliza que precisamos parar. Vem então o conflito, porque a vida lá fora segue acontecendo, empurrando-nos, pedindo para que aceleremos. O tempo urge! Corra! Tudo passa rápido!
Acelerar quando queremos e/ou precisamos parar, funcionar o tempo todo no ritmo veloz que a vida impõe tem um custo alto. Ficamos submetidos constantemente à demanda do outro, ao tempo do outro, muito pouco ligados ao nosso próprio tempo, ao nosso ritmo, ao ritmo do nosso corpo e da nossa mente.
O tempo precisa de tempo para operar, há coisas que só podem se dar justamente no intervalo, na pausa. Por exemplo, a disponibilidade de escuta do analista, a disposição para escrever do escritor, a possibilidade de criar do artista, só podem se realizar, só podem acontecer, se houver tempo para se nutrir, para se alimentar fora, tanto da banalidade quanto do extraordinário. O instante do insight, do estalo, do "bingo!", não acontece sem haver tempo, elaboração. Há algo que acontece internamente para que se alcancem esses momentos preciosos.
Daí, por exemplo, que a análise seja um processo que exige tempo. Não sabemos quanto tempo levará, sabemos o ponto de partida, sem saber aonde chegaremos nem quanto tempo levaremos para chegar nesse lugar misterioso. Alguns diriam ser um tempo gasto, que justamente não têm tempo para gastar num processo que não sabem quanto tempo durará. Eu penso que é um tempo investido, ou melhor, um tempo bem "perdido". Fazer uma análise é um modo de suspender o tempo, de sair da lógica desse tempo apressado, da produtividade e entrar numa outra temporalidade, a do inconsciente. Sair do tempo externo para olhar para si e poder saber de si.
E além de uma análise, que outras maneiras de viver podemos forjar para frear a passagem do tempo, para não ficarmos reféns do tempo e da demanda do outro, na contramão dos dias de hoje? Qual é seu modo de retardar o tempo? Quando, onde, com quem você suspende o tempo? Quais pausas você faz no seu dia a dia?