19 de dezembro de 2021, reta final do ano. O clima de fim ano já começou tem certo tempo, afinal estamos a poucos dias do Natal. Panetones nos supermercados, luzes acesas pela cidade, árvores de natal montadas nas janelas, retrospectiva do ano, resoluções para o ano que vem, etc. Fiquei pensando sobre isso tudo, sobre o que poderia escrever a respeito do fim do ano e, talvez, do início do próximo. Mas minha reflexão hoje é breve, não se aprofunda sobre fatos específicos deste ano nem sobre expectativas detalhadas do ano que se aproxima.
2021 foi um ano de muitas perdas, em todos os sentidos. Muitos dizem, inclusive, que é uma extensão de 2020, quase como um continuum. No parágrafo acima, descrevi um clima de fim de ano privilegiado, protegido, época de luzes e panetones, mas a verdade é que o ano inteiro foi um período de muitas perdas humanas, perdas em direitos, perdas em valores, perdas em conquistas que havíamos feito como país. Assim, o natal que se desenha para tantos está longe de ser um natal brilhante e farto. Difícil pensar sobre quantos anos levaremos para nos reerguer de tantos prejuízos. Estamos exaustos, desesperançosos. Li hoje que a meta é não ter meta. Em tempos sombrios, de pandemia e de retrocesso civilizatório, parece quase impossível fazer planos.
Nesse cenário, fora nosso papel como cidadãos, eleitores, sou levada diretamente à arte e à cultura. Sei que, aqui, não falo novidade alguma, mas, mais do que em qualquer outro tempo, arte e cultura me parecem, mais uma vez, confirmar o quanto são imprescindíveis. Não à toa, são tão atacadas por aqueles que destilam violência, hostilidade e brutalidade. Sempre ressoa em mim a frase "A arte salva". No Mal estar na cultura, Freud afirma:
A beleza não tem uma utilidade evidente, a sua necessidade cultural não é reconhecível, e, no entanto, a cultura não pode prescindir dela (Freud, 1930, edição L&PM).
Desde que a li pela primeira vez, a passagem acima me deixou tamanha impressão que se tornou uma daquelas que a gente se apropria e cria uma forma sintética. Costumo dizer que Freud fala algo como "A arte não é necessária, mas indispensável". Isso sempre teve muito impacto em mim.
Quando falo aqui de arte e cultura, penso nessa grande categoria que engloba teatro, artes plásticas, literatura, cinema, séries, etc. Penso em tanta coisa para refletir sobre a ideia de que a arte é imprescindível, mas hoje serei breve. Não me parece coincidência que essa categoria resista, expanda-se, a despeito das ameaças e ataques que vem sofrendo ultimamente. A arte nos humaniza, nos fortalece, dá lugar para o que sentimos, nomeia (ainda que não em palavras exatamente) as alegrias que experimentamos, assim como as dores que carregamos.
Neste momento, minha bússola aponta para isto, ir a uma exposição, ver um filme, ler um livro, assistir a uma peça, pintar, e por aí vai. A arte como possibilidade de nomeação, mas também, por que não, de fuga, escapismo, salvação, já que às vezes a vida fica real demais. Quando se trata de arte até a dor pode guardar algo de bonito.