Uma daquelas frases constantemente repetida a quem tem bebês e filhos pequenos é "Crie uma rotina", crie uma rotina para o sono, para a alimentação. É um fato que os bebês e crianças se beneficiam muito de uma rotina, de uma previsibilidade. Isso dá segurança a eles sobre o que vai acontecer em seguida, dando conforto e ajudando a organizá-los psíquica e emocionalmente, ainda mais considerando que nesse momento inicial da vida estão longe de estarem integrados. Os pais também têm benefícios a partir dessa repetição, pois um mínimo de planejamento (que pode ser quebrado a qualquer momento) pode se dar no dia a dia.

Justamente devido à falta de integração do bebê, especialmente nos primeiros meses de vida, pode ser muito difícil estabelecer a tal da rotina. O funcionamento do bebê se modifica radicalmente, uma vez que estava dentro da barriga da mãe e agora se encontra do lado de fora, onde as "Condições Normais de Temperatura e Pressão" são bastante diferentes. E poderíamos acrescentar luminosidade, a forma como o oxigênio e alimento chegam, o meio em que está imerso, etc. Para quem já vivia fora da barriga, também ocorre uma verdadeira revolução quando da chegada do bebê ao lado de cá. Todos os envolvidos fazem um esforço simultâneo e recíproco de adaptação e ajuste, o que torna a construção da rotina desafiadora.

Mas aos poucos a repetição dos cuidados e atividades vai acontecendo, oscilando entre o natural e o pensado. É então que vem um novo desafio, a quebra da rotina. Por mais que se busque estabelecer previsibilidade, regras, constantemente acontecem quebras e rupturas, seja pelo próprio desenvolvimento do bebê, seja porque não estamos tratando de pequenos robôs. Às vezes pode se exigir uma repetição irreal, esquecendo-se de que nós mesmos, adultos, não nos comportamos do mesmo modo todos os dias. Pelo contrário, estamos constantemente oscilando, às vezes temos mais fome que no dia anterior, temos menos sono, queremos dormir mais tarde, ficamos mal-humorados, ou estamos dispostos e cheios de energia. A verdade é que oscilamos, não somos os mesmos nem queremos fazer as mesmas coisas do mesmo modo todos os dias.

Uma vez que haja uma rotina estabelecida, como o horário de almoço, da soneca, a alteração nisso pode ser extremamente trabalhosa. É sábado, você nem viu a hora, o almoço não está pronto, quando se deu conta, sua filha já está irritada, com fome e com sono! Aquela mistura explosiva de fome e sono! E agora?

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Manter horários rígidos para as atividades aumenta a previsibilidade, organiza o dia e a noite, evita estresse, mas também pode engessar. Finais de semana, por exemplo, tendem a ser dias em que saímos da rotina, em que fazemos as refeições mais tarde, fazemos programas diferentes dos dias de semana, não tem escola, etc. Por consequência, os horários se modificam e às vezes o preço dessa mudança pode ser alto, crianças e pais estressados e irritados. O equilíbrio se rompe quando a rotina se rompe. Por outro lado, manter a rotina de forma muito rigorosa todos os dias pode também ser cansativo e privar pais e crianças de experiências interessantes, divertidas e relaxantes.

A vida com filhos pequenos já costuma deixar pouca margem para o tempo e os desejos dos pais. Passa-se a ser muito pouco dono do próprio tempo. Esse serzinho recém-chegado demanda cuidados 24 horas por dia, pois não é possível apertar o botão "mãe/pai" e colocá-lo no off para ganhar uma pausa de um dia ou de algumas horas. Para fazer qualquer atividade que não envolva o bebê, é preciso envolver outras pessoas, avós, tias e tios, amigas e amigos, babás, etc.

Diante dos dilemas das rotinas e suas respectivas quebras, é importante avaliar qual custo é possível bancar. Abrir mão de um programa divertido para manter o equilíbrio costumeiro da casa? Usufruir do programa e encarar todas as consequências que vierem das mudanças do horário?

Penso na ideia de "maternidade possível", ou melhor, maternidades possíveis. Qual maternidade é possível para você? Às vezes, pode-se idealizar uma forma de ser mãe, a construção de uma determinada rotina e descobrir que ela, ou elas, não são possíveis, ou podem até ser, mas a um custo tão alto que provavelmente não compense pagá-lo.