Esses dias lembrei do filme Questão de tempo (tradução do título original About time), de 2013. Trata-se de um filme que mistura fantasia, drama e comédia e que traz a ideia tão clichê - e sempre tão sedutora, a ponto de aparecer renovadas vezes em filmes, livros e séries - de voltar no tempo e poder alterá-lo. Aos 21 anos, o pai de Tim conta a ele que os homens da família são viajantes no tempo, mais especificamente no passado. Bastava que ele fosse a um lugar escuro e pensasse no período e no lugar a que queria ir.

Tim começa, então, a fazer viagens no tempo, alterando algumas situações, modificando o modo como se comporta em cada uma delas e, naturalmente, lidando com as consequências disso, com o famoso "efeito borboleta" (que também dá nome a um filme). Aos poucos, vai descobrindo limitações dessa poderosa e perigosa habilidade.

Em algum momento, ao retornar de uma dessas viagens ao passado, quando vai pegar seu filho no presente, descobre que, para seu espanto, trata-se de outro bebê, não mais aquele que conhecia. Tim questiona o pai, que confirma a ele que é um exato espermatozóide, num exato momento, que deu a ele aquele filho específico. Qualquer coisa que ele altere, que faça diferente, dará a ele um filho diferente.

Essa passagem do filme faz lembrar que o nascimento de um filho é um evento único, mas mais que isso, é uma espécie de ruptura no tempo, um marco que divide a vida num antes e num depois, um corte. Depois de um nascimento de um filho, é impossível retornar ao que se foi antes. Irreversível, um ponto sem volta.

Lembro de uma passagem irretocável do primeiro conto do livro A teta racional, "XX + XY", de Giovana Madalosso:

(...) porque desde que meu filho nasceu, eu andava sentindo umas coisas estranhas. Era como se o meu emocional tivesse sofrido um corte mais profundo e ganhado uma nova camada, que me deixava experimentar mais amor e mais felicidade, mas também mais medo e mais dor. A maternidade, descobri, é um ato de coragem, porque quem ama com tamanha intensidade se expõe ao mundo sem a pele. Perguntei para ela: isso nunca vai passar? Nunca, ela me respondeu, sem eu nem dizer exatamente do que estava falando (p. 20).

Como se era antes de um filho? Como era a vida antes? Quais eram os sonhos? Quais eram os medos e as dores? Como as experiências eram sentidas? Como se usava o tempo?

O crescimento de filhos é intenso, por vezes lento. O tempo escorre. O crescimento de filhos é intenso, por vezes tão veloz e assustador. O tempo corre. Nasce o desejo de vê-los crescer. O tempo transcorre. Nasce o desejo de segurar o tempo, abraçar os filhos como quem agarra o tempo, parar o tempo para que parem de crescer. Filhos inauguram uma nova relação com o tempo e com a vida, modificam radicalmente a viagem que se pode fazer no passado, no presente e no futuro. São um convite a inventar novos modos de navegar no tempo.