Na última segunda-feira, decidi deletar o aplicativo do Twitter. Já vinha pensando em desativá-lo há algum tempo. A maioria das pessoas que eu seguia são jornalistas, comentaristas, jornais, etc. Assim, há bastante tempo, ele tem funcionado como um noticiário. Claro que, entre as notícias, há também memes, imagens e textos engraçados, mas o Brasil – vou nomear assim para ser sintética – não tem permitido que eles se sobressaiam. Dormir nesse país é um perguntar-se todos as noites qual absurdo ou atrocidade encontraremos amanhã. Não há descanso.

Após dois dias sem ter o aplicativo do Twitter no meu celular, me flagrei várias vezes procurando-o. Em uma delas, realmente o procurei, sem entender onde ele poderia estar, até que me lembrei de que o havia apagado. Quem já fez a experiência de apagar alguma rede social se dá conta de quantas vezes a acessa e em quais momentos. Em poucos dias, tem-se a dimensão do funcionamento viciante e automático que fazemos. Isso não é novidade.

O fato é que decidi apagar o aplicativo porque venho me sentindo muito intoxicada, como se as notícias fossem venenos que não sou capaz de metabolizar. Elas se acumulam no meu corpo e na minha mente. Me deixo afetar por quase todas, algumas em maior, outras em menor medida.

Foi então que me deparei com um vídeo de uma entrevista dada por Rubem Alves a Antônio Abujamra no programa Provocações, hoje apresentado por Marcelo Tas. Nesse curto trecho, o escritor diz que tem um "grilo" com o pessoal de convento, que ao fazer promessas, promete que uma vez alcançada a graça, subirá 40, 400 degraus, em vez de prometer, por exemplo, ler um poema de Fernando Pessoa por dia. Para Alves, essa visão seria de um Deus sádico, que fica feliz com o sofrimento humano. Ele lembra que, afinal de contas, Deus criou um jardim de delícias. "Delícias", ele repete, saboreando a palavra.

Depois de ter visto esse vídeo, o nome de Fernando Pessoa ficou na minha cabeça. Peguei, então, o Livro do Desassossego, livro a que devo lembrar de voltar com mais frequência. Gosto de abri-lo ao acaso, como um oráculo. Assim o fiz e fui, mais uma vez, lembrada da habilidade ímpar de Pessoa, de seu talento grandioso para manusear as palavras. Li poucas páginas e logo precisei fechar o livro e olhar pra longe, tanto porque fui transportada a outros lugares quanto porque precisava absorver aquelas frases. Pergunto-me como pode alguém escrever desse modo.

Foi assim que imaginei, inspirada pela fala de Rubem Alves e pela potência de Fernando Pessoa, uma "prescrição literária". Posologia: 2 poemas de Fernando Pessoa, ao acordar; 1 conto de Lygia Fagundes, logo após o almoço; 3 prosas poéticas de Manoel de Barros, ao deitar e 1 crônica de Clarice Lispector, dia sim, dia não. Melhores resultados podem ser alcançados com uso apenas moderado de redes sociais. Em uma semana, os sintomas já devem ter diminuído.

A "prescrição literária" é antídoto para as notícias tóxicas, mas também uma forma de sobreviver afetivamente para ser capaz de mudar as coisas.