Na praia onde ficamos, havia várias pedras. Bem no início da manhã, ficavam submersas, revelando-se de vez em quando conforme o mar dançava. Com o avançar das horas, a maré descia e se formavam pequenas piscinas, entre pedras escuras e outras verdes, cobertas por um musgo de textura aveludada e tom vívido. Mas a partir do meio do dia, com a subida gradativa da maré, as pedras voltavam a se esconder, traiçoeiras. O mar em si era bravio.

Logo no primeiro dia em que pisei naquela praia, senti um sinal de alerta. Esta praia é perigosa. Mais grave, é perigosa e bela, combinação sedutora. Apenas em um ponto, avistei uma bandeira amarela em que se lia, escrito em vermelho, « Atenção ». O restante da extensão que pude percorrer caminhando não guardava sinalização alguma.

Um dia, já pelo meio da tarde, quando as pedras voltavam a se esconder, vi várias pessoas mergulhando no mar e me perguntei como não havia ninguém para ficar permanentemente avisando do perigo subjacente à água. Como não havia alguém que alertasse os banhistas, como uma mãe adverte um filho ao vê-lo subir em um lugar alto ou fazer uma estripulia arriscada? Pensei onde estava o governo, que não havia designado ninguém para cuidar disso.

Entretanto, logo me dei conta do absurdo da minha reivindicação imaginária. Uma vez adulto, na maior parte das vezes, não se tem quem finque uma bandeira de alerta antes das esquinas e curvas perigosas da vida. Vive-se por sua própria conta e risco, torcendo para não atingir uma pedra traiçoeira, escondida sob uma superfície atraente ou para, se atingida a pedra, que um salva-vidas venha em seu auxílio. Como diz Guimarães Rosa, "Viver é negócio muito perigoso...".